O Sal da Língua sugere as palavras de um homem – Ruy Belo – e uma oportunidade para um conhecimento mais profundo da sua obra: o Colóquio Ruy Belo, na Fundação Calouste Gulbenkian (auditório 2), nos dias 3 e 4 de Novembro, das 10:00 às 19:00. A assistência é livre mas sujeita a inscrição para: coloquioletras@gulbenkian.pt
“Celebrando o cinquentenário da publicação de Aquele Grande Rio Eufrates (1961), este colóquio destina-se a homenagear a obra de um dos poetas centrais da segunda metade do século XX. Aberto a estudiosos da obra de Ruy Belo, mas também a especialistas da poesia portuguesa do século XX e da teoria e crítica literárias, este encontro pretende pôr em relevo os múltiplos problemas que a sua poesia coloca, os universos de referência e o seu lugar no panorama da poesia contemporânea“.
“E tudo era possível”
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
Ruy Belo, Homem de Palavra[s]
Lisboa, Editorial Presença, 1999 (5ª ed.)
