O Sal da Língua comemora a atribuição do prémio Inês de Castro 2012, pelo livro Poesia Reunida (publicado em setembro passado e que foi uma das prendas que felizmente me calhou no sapatinho), à poetisa Maria do Rosário Pedreira. O júri do prémio integrou o catedrático de Letras José Carlos Seabra, o escritor Mário Cláudio, o poeta e ensaísta Fernando Guimarães, o tradutor e poeta Frederico Lourenço, e o escritor e crítico literário Pedro Mexia. O livro Poesia Reunida integra três livros já editados e que estão na estante lá de casa: A Casa e o Cheiro dos Livros (1996), O Canto do Vento nos Ciprestes (2001) e Nenhum Nome Depois (2004), para além do inédito A Ideia do Fim. Quem gostar do formato blogueiro, pode acompanhá-la no Blogue Horas Extraordinárias.
O Sal da Língua comemora também a atribuição do Prémio Pessoa 2012 a Richard Zenith, norte-americano e radicado em Portugal desde 1987, investigador pessoano, tradutor de Camões, Sophia, Drummond e Antero para a língua inglesa, crítico literário e um dos curadores da exposição “Fernando Pessoa, Plural como o Universo”, que teve o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.
Para “amostra”, o Sal da Língua deixa um dos muitos de Maria do Rosário Pedreira
Lê , são estes os nomes das coisas que
deixaste – eu, livros, o teu perfume
espalhado pelo quarto; sonhos pela
metade e dor em dobro, beijos por
todo o corpo como cortes profundos
que nunca vão sarar; e livros, saudade,
a chave de uma casa que nunca foi a
nossa, um roupão de flanela azul que
tenho vestido enquanto faço esta lista:
livros, risos que não consigo arrumar,
e raiva – um vaso de orquídeas que
amavas tanto sem eu saber porquê e
que talvez por isso não voltei a regar; e
livros, a cama desfeita por tantos dias,
uma carta sobre a tua almofada e tanto
desgosto, tanta solidão; e numa gaveta
dois bilhetes para um filme de amor que
não viste comigo, e mais livros, e também
uma camisa desbotada com que durmo
de noite para estar mais perto de ti; e, por
todo o lado, livros, tantos livros, tantas
palavras que nunca me disseste antes da
carta que escreveste nessa manhã, e eu,
eu que ainda acredito que vais voltar, que
voltas, mesmo que seja só pelos teus livros.
[in Poesia Reunida, Quetzal, 2012]
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