É o mais solitário, o mais esquivo,
o mais sonhador dos animais,
o unicórnio – a cadência dos versos
guiando-lhe os passos. Alguns
dizem tê-lo avistado ao crepúsculo
da noite, aproximando-se apenas
de raparigas e rapazes virgens
ainda. Não sei de quem o tenha
acariciado. Há os que pensam ser,
graças ao corno desmesurado
e afrontoso da sua virilidade,
encarnação do demónio. Talvez por isso,
os homens mal lhe pressentem o cheiro
atiçam-lhe raivosos os seus cães.
In: Os lugares do lume (1998)