O Sal da Língua comemora a atribuição do Prémio Literário Casa da América Latina/Banif deste ano ao poeta brasileiro Manoel de Barros. Instituído em 2005, este Prémio de Literatura tem como finalidade distinguir obras de autores latino-americanos vivos publicadas em Portugal e tem, pela primeira vez, um vencedor na categoria de poesia.
O livro de Manoel de Barros Poesia Completa (editado pela Caminho no ano passado), reuniu a unanimidade do colectivo de jurados do prémio, constituído por Maria Fernanda de Abreu, presidente do júri, pelo poeta e professor universitário Fernando Pinto do Amaral e pelo poeta José Manuel de Vasconcelos, em representação da Associação Portuguesa de Escritores.
O decano da poesia brasileira, de 95 anos, não se deslocou a Lisboa para receber o galardão, no valor de dez mil euros, que foi antes entregue à sua filha. Mas o autor de Livro sobre Nada fez questão de agradecer com um poema inédito:
Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de garças!
Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens.
Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar.
A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra.
Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica.
Manoel de Barros
(Fonte: Jornal Público)