Arquivo de Maio, 2012

29
Maio
12

O Sal da Língua comemora…Latino para Manoel de Barros

O Sal da Língua comemora a atribuição do Prémio Literário Casa da América Latina/Banif deste ano ao poeta brasileiro Manoel de Barros. Instituído em 2005, este Prémio de Literatura  tem como finalidade  distinguir obras de autores latino-americanos vivos publicadas em Portugal e tem, pela primeira vez, um vencedor na categoria de poesia.

O livro de Manoel de Barros Poesia Completa (editado pela Caminho no ano passado), reuniu a unanimidade do colectivo de jurados do prémio, constituído por Maria Fernanda de Abreu, presidente do júri, pelo poeta e professor universitário Fernando Pinto do Amaral e pelo poeta José Manuel de Vasconcelos, em representação da Associação Portuguesa de Escritores.

O decano da poesia brasileira, de 95 anos,  não se deslocou a Lisboa para receber o galardão, no valor de dez mil euros, que foi antes entregue à sua filha. Mas o autor de Livro sobre Nada fez questão de agradecer com um poema inédito:

Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de garças!
Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens.
Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar.
A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra.
Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica.

Manoel de Barros

 

(Fonte: Jornal Público)

27
Maio
12

Narração inexacta da casa

A mais antiga e demorada

frase fala do mar logo de início,

no desejo de habitar

os flancos lentos da sua ondulação.

A narrativa torna-se depois

confusa: entre mastros e muros,

além do vento, corria o medo.

Que estranho amor levou

a fazer da casa um barco?

A cal e a pedra guardam o segredo.


In: Ofício da Paciência (1994)

 

O Sal da Língua, Eugénio e a Poesia agradecem as mais de 60 000 visitas ao longo destes quatro anos a este blogue.

23
Maio
12

O Sal da Língua comemora … Camões para Trevisan

O Sal da Língua, celebrando a língua portuguesa sempre, comemora a atribuição da 24ª edição do Prémio Camões  ao escritor brasileiro Dalton Trevisan, uma escolha unânime por parte do júri do prémio. De acordo com as actas do júri,  “Dalton Trevisan significa uma opção radical pela literatura enquanto arte da palavra. Tanto nas suas incessantes experimentações com a língua portuguesa, muitas vezes em oposição a ela mesma, quanto na sua dedicação ao fazer literário sem concessões às distracções da vida pessoal e social”.

Dalton Trevisan nasceu em 1925 em Curitiba, é licenciado em direito e dedicou-se à literatura após ter sido jornalista policial e crítico de cinema. Começou a publicar em 1945, apesar de mais tarde ter renegado os seus dois livros de juventude: “Sonata sempre ao Luar” e “Sete anos de Pastor”. Entre 1946 e 1948, editou a revista “Joaquim”, “uma homenagem a todos os Joaquins do Brasil”, por onde passaram os maiores nomes da cultura brasileira. Em 1959 lançou “Novelas Nada Exemplares” e recebeu o Prémio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. “Cemitério de Elefantes” (Prémio Jabuti e Prémio Fernando Chinaglia, da União Brasileira dos Escritores) foi uma das primeiras obras do escritor editadas em Portugal, pela Relógio d’Água, em 1984. Destaque também para “Noites de Amor em Granada” e “Morte na Praça” (Prémio Luís Cláudio de Sousa, do PEN Club do Brasil). Em 1996 recebeu o Prémio Ministério da Cultura de Literatura pelo conjunto da sua obra. Em 2003, dividiu com Bernardo Carvalho o Prémio Portugal Telecom de Literatura com o livro “Pico na Veia”. Recentemente no Brasil publicou “O anão e a ninfeta”, na editora Record, e “99 corruíras nanicas” e “O grande delforador”, na L&PM.

Fonte: Jornal Público




"Poupar o coração é permitir à morte coroar-se de alegria." Eugénio de Andrade
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“Sobre Eugénio sobra-me em emoção e lágrimas o que escasseia em palavras. Não há claridade que te descreva, meu querido Eugénio. És o meu poeta de ontem e de sempre. Mantinha um desejo secreto de te conhecer um dia, passar uma tarde contigo de manta nas pernas a afagar os gatos que tanto amavas. Em silêncio, sim, pois sempre foi em silêncio que me disseste tudo ao longo destes anos todos em que devorei as tuas palavras. Tu não poupaste o coração e por isso viverás sempre. Não há morte que resista a isso.” Raquel Agra (13/06/2005)

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