Posts Tagged ‘junho

11
Jun
11

Junho, o mês em que se nasce e se morre

No próximo dia 13 de Junho completam-se 6 anos desde a morte de Eugénio de Andrade, os mesmos que se completam pela morte do escritor Manuel Tiago (pseudónimo de Álvaro Cunhal). Anos antes, em 1997, também morria nesse dia o querido poeta Al Berto. Recuando nos séculos, o 13 de Junho seria, em contraste, o dia do nascimento do imenso Fernando Pessoa, no ano de 1888.

O Sal da Língua no dia 13 prestará homenagem aos três poetas e a Manuel Tiago, no entanto, por agora, aproveita para prestar homenagem a outros poetas e escritores portugueses para os quais Junho foi o mês da chegada, da partida ou de uma permanência diferente. São eles:

06 de Junho de 1848 – Nasce António Leal
09 de Junho de 1900 – Nasce José Gomes Ferreira
12 de Junho de 1945 – Nasce José Viale Moutinho
15 de Junho de 1970 – Morre Almada Negreiros

16 de Junho de 1986 – Morre David Mourão-Ferreira
18 de Junho de 2010 – Morre José Saramago

13
Mar
11

Coisas mudáveis

De tão luminosa, essa ferida

já nem dói – ó tão mudáveis

coisas vindas

na palavra, sucessiva

ondulação do mundo

latindo contra o coração,

vagas de sombra ou só de pedra,

 canção despedaçada

contra os vidros, fulva

vagabundagem de abelhas,

manhã de Junho

tão cedo prometida às areias.

In: Ofício de Paciência (1994)

04
Jan
11

Em forma de estrela

Vi-te levantar os braços para a culminação da noite, beber em silêncio nas águas da demência sem poder acudir-te, sem conseguir inclinar-te para o esplendor das areias de junho, perguntando-me para que servem as mãos se até do jeito de partir o pão se haviam esquecido, ou de governar o arado, ou de erguer uma criança para a oferecer ao sol, as árvores à roda curiosamente dispostas em forma de estrela.

In: Memória Doutro Rio (1978)

10
Jul
10

Rilkeana

De ti e desta nuvem; desta nuvem

branca como voo de pássaro

em manhã de Abril; de ti

e da íntima chama de um fogo

que não consente extinção;

de ti e de mim fazer um só acorde,

um acorde só; para não te perder.

03
Jul
10

Despedida

Junho chegara ao fim, a magoada

luz dos jacarandás, que me pousava

nos ombros, era agora o que tinha

para repartir contigo,

e um coração desmantelado

que só aos gatos servirá de abrigo.

19
Jun
10

O mês em que se morre, Eugénio e Saramago

Eugénio escolheu o mês de Junho para morrer. No passado dia 13 completaram-se 5 anos desde o desaparecimento de Eugénio.

Ontem, dia 18, José Saramago parte também, no mês em que a natureza mais floresce e pulsa de vida.

Hoje o Sal da Língua presta homenagem à perda do homem e à imortalidade do génio. A obra é um filho que nunca cresce, é talvez a única forma de permanecermos vivos. Hoje Saramago está tão vivo e tão morto como ontem. A verdade é que o caminho, como ele dizia, nunca acaba.

O viajante está feliz. Nunca na vida teve tão pouca pressa. Senta-se na beira de um destes túmulos, afaga com as pontas dos dedos a superfície da água, tão fria e tão viva, e, por um momento, acredita que vai decifrar todos os segredos do mundo. É uma ilusão que o assalta de longe em longe, não lho levem a mal.

In Viagem a Portugal (1981), Ed. Caminho, 21.ª ed., p. 137

Acho que todos nós devemos repensar o que andamos aqui a fazer. Bom é que nos divirtamos, que vamos à praia, à festa, ao futebol, esta vida são dois dias, quem vier atrás que feche a porta – mas se não nos decidirmos a olhar o mundo gravemente, com olhos severos e avaliadores, o mais certo é termos apenas um dia para viver, o mais certo é deixarmos a porta aberta para um vazio infinito de morte, escuridão e malogro.

In Deste Mundo e do Outro, Ed. Caminho, 7.ª ed., p. 216

20
Nov
09

Manhã de Junho

Talvez, talvez sejam os últimos
dias. Se for assim, são um esplendor.
Apesar dos aviões da Nato despejarem
bombas e bombas no Kosovo, a perfeição
mora neste muro branco
onde o escarlate
da flor da buganvília sobe ao encontro
da luz fresca da manhã de junho.
A beleza (não há outra palavra
para dizê-lo), a beleza desta manhã
é terrível: persiste, domina –
apesar dos aviões, mesmo com
bombas a cair e crianças a morrer.
22
Fev
09

Eu ia com a noite pelas ruas

Eu ia com a noite pelas ruas

descuidadas que levam ao teu corpo.

Não sei que vozes se cruzaram

com a manhã de Junho dos meus olhos,

mas sempre vozes ou a sombra delas

cortaram os passos ao desejo.

Perdi-me em nevoeiros que de súbito

sobre a cidade caíram, ou em mim.

22
Jan
09

O que não pode morrer

Diz, diz uma vez mais o que não pode

morrer:

a luz, que no sul é inocente

e trepa aos pinheiros;

o trote miúdo das manhãs de junho;

o azul a pique do falcão;

as dunas, com sinais ainda

de outro verão para levar à boca.




"Poupar o coração é permitir à morte coroar-se de alegria." Eugénio de Andrade
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“Sobre Eugénio sobra-me em emoção e lágrimas o que escasseia em palavras. Não há claridade que te descreva, meu querido Eugénio. És o meu poeta de ontem e de sempre. Mantinha um desejo secreto de te conhecer um dia, passar uma tarde contigo de manta nas pernas a afagar os gatos que tanto amavas. Em silêncio, sim, pois sempre foi em silêncio que me disseste tudo ao longo destes anos todos em que devorei as tuas palavras. Tu não poupaste o coração e por isso viverás sempre. Não há morte que resista a isso.” Raquel Agra (13/06/2005)

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