Também tu,
também tu suspiras
por águas que lavem
o pranto, as feridas,
e se possível o mundo.
Suspiras, e ardes,
e contigo arde o ar.
Felizes os anjos:
em vez de suspiros
ouvem-te cantar.
26-1-87
In: Homenagens e outros Epitáfios
Também tu,
também tu suspiras
por águas que lavem
o pranto, as feridas,
e se possível o mundo.
Suspiras, e ardes,
e contigo arde o ar.
Felizes os anjos:
em vez de suspiros
ouvem-te cantar.
26-1-87
In: Homenagens e outros Epitáfios
O Sal da Língua deseja um dia sorridente para todos!
Estou em vésperas de partir para o Verão, Eugénio acompanha-me a banhos e a caminhadas por cidades e serras e o Sal da Língua, esse, ficará ao vosso cuidado!
Até breve,
Raquel
O Sal da Língua sugere…
A apresentação do ensaio de Federico Bertolazzi sobre o pensamento estético e a poética de Eugénio de Andrade – “Noite e Dia da Mesma Luz”. Amanhã, dia 14, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, às 18h30. A apresentação estará a cargo de Fernando J.B. Martinho e será projectada uma vídeo-antologia de Eugénio de Andrade em que o poeta lê os seus poemas.
A realização do curso “Os livros esotéricos de Fernando Pessoa“. O curso sobre Fernando Pessoa será coordenado por José Manuel Anes e leccionado no auditório da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, entre as 18h30 e as 20h30, nos dias 20 e 27 de Junho e 4, 11, 18 e 25 de Julho de 2010. curso, com vagas limitadas (80) tem uma “propina” de 40 euros, incluindo visita guiada à Quinta da Regaleira. A inscrição deve ser feita na Casa Fernando Pessoa, até 15 de Junho. No final do curso será entregue um diploma de participação.
O espectáculo de homenagem a Al Berto com o nome “Moradas do Silêncio”, integrado no Festival Silêncio e que terá lugar no Cinema São Jorge, em Lisboa, no dia 25 de Junho às 22h00. Sérgio Godinho, JP Simões, João Peste, Rui Reininho, Noiserv e Miguel Borges juntam-se para uma homenagem a Al Berto num espectáculo único e irrepetível. Em “Moradas do Silêncio” cada artista é convidado a apresentar três temas inspirados na obra do poeta ou relacionados com o imaginário da sua escrita. Neste espectáculo transdisciplinar cada intervenção será precedida por curtos interlúdios em que, sob texturas musicais de Noiserv, serão declamados poemas seleccionados pelo escritor Nuno Júdice. O vídeo será de João Pedro Gomes sobre imagens e fotografias do poeta, manipuladas por Tó Trips (Mackintóxico). A banda suporte será constituída por quatro elementos dos Rádio Macau: Flak, Filipe Valentim, Samuel Palitos e Alex Cortez.
O “Sal da Língua” completou dois anos. Eu agradeço as visitas, as partilhas e as palavras de incentivo. Ele, o poeta, sorri.
Neste "O lugar dos amigos" será dado espaço aos que melhor nos falam da vida de Eugénio - os seus colegas e amigos. Começaremos então pelo amigo Eduardo Lourenço. O texto chama-se "Adeus a Eugénio" e foi publicado no Jornal Público a 14 de Junho de 2005. A morte foi-lhe póstuma. Como para sublinhar que não lhe dizia respeito. Realíssima foi a sua longa agonia branca, o estar assistindo à sua vida sem poder fazer nada por ela. Nem nós, seus amigos, vendo o mais solar dos poetas a braços com esse crepúsculo sem manhã. Vivo e consciente, contemplou a última metamorfose, da sua própria margem, aquela que uma luminosa vida de versos lhe construíra como a única barca imune ao negro esquecimento. Aí permanecia o deus verde que sonhara o seu destino como quem dança. Sem anjos e sem pecado. Viera para inventar, cantando-se e encantando-se com o mundo, o seu próprio paraíso. Do reino das sombras, só soube da ausência da luz original que elas são. No cristal das palavras talhou o corpo dos poemas onde morria e ressuscitava. Todas lhe eram caras mas mais aquelas que precisavam dele para serem saboreadas pelos outros, as mais discretas, as mais duras no seu silêncio, as que tocadas por ele se convertiam em chama perpétua. As coisas mesmas, as mais banais, foram os seus símbolos. Elas lhe bastaram para deixar na memória poética da nossa língua aquela "espécie de música" a que Óscar Lopes aludiu. E é o sonho inalcançável de todo o poema. No círculo encantado que de Bernandim conduz a Pessanha, Eugénio instalou a sua tenda. Agora pode conversar de igual a igual com os seus astros tutelares. E concentrar-se inteiro na haste da melancolia que evocou para nós. Ave solar em plena luz. Vence, 13 de Junho de 2005 Eduardo Lourenço
Hoje trago Sophia para a companhia de Eugénio. Cinco anos depois da sua morte, o Jornal Público, na edição do passado domingo, dá-nos conta de alguns excertos de diários, poemas e cartas do espólio de Sophia de Mello Breyner, presente no Centro Nacional de Cultura, em Lisboa, entre histórias contadas na primeira pessoa por dois dos seus filhos. Do nosso querido Eugénio de Andrade, para Sophia, há cartas, postais, poemas e textos, como aquele que diz: "De repente ouvia-se uma voz: Onde está a Sophia? Não havia Sophia, mas o ar era fresco como se atravessássemos uma alameda de tílias". Do mundo de Sophia resolvi trazer um poema inédito apresentado nesse artigo do Público, um poema escrito a tinta permanente azul, num pequenino papel, com data de 31 de Agosto de 1943. O seu nome - Inocência e possibilidade: As imagens eram próximas Como coladas sobre os olhos O que nos dava um rosto justo e liso Os gestos circulavam sem choque nem ruído As estrelas eram maduras como frutos E os homens eram bons sem dar por isso.
Eugénio escorreu para outras fontes há precisamente 3 anos. E tanto dele podemos ainda beber…
Às 11h de hoje, no cemitério do Prado do Repouso, terá lugar a cerimónia de trasladação dos restos mortais de Eugénio de Andrade, do jazigo municipal para o túmulo desenhado pelo arquitecto Siza Vieira.
Nota: A ilustração encontra-se no livro “Os Dóceis Animais”