Posts Tagged ‘Primavera

16
Fev
12

Entre março e abril

Que cheiro doce e fresco,

por entre a chuva,

me traz o sol,

me traz o rosto,

entre março e abril,

o rosto que foi meu,

o único

que foi afago e festa e primavera?

 

Oh cheiro puro e só da terra!

Não das mimosas,

que já tinham florido

no meio dos pinheiros;

não dos lilases,

pois era cedo ainda

para mostrarem

o coração às rosas;

mas das tímidas, dóceis flores

de cor difícil,

entre limão e vinho,

entre marfim e mel,

abertas no canteiro junto ao tanque.

 

Frésias,

ó pura memória

de ter cantado –

pálidas, fragrantes,

entre chuva e sol

e chuva

– que mãos vos colhem,

agora que estão mortas

as mãos que foram minhas?

 

In: Coração do Dia (1958)

21
Jan
10

Olhos postos na terra, tu virás

Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás nas mãos de quem te espera.
07
Out
09

Chuva de Março

A chuva detrás dos vidros,
a chuva de março,
acesa até aos lábios, dança.
Mas a maravilha
não é a primavera chegar assim
como se não fora nada,
a maravilha são os versos
de Williams
sobre a rasteira e amarela
flor da mostarda.
16
Mar
09

Anunciação da primavera

São as primeiras frésias do ano:

vieram da Holanda

para que a primavera entrasse

em Janeiro pela casa dentro.

Com o seu aroma e o vento solar

farei o lume,

farei o lume onde aquecer as mãos

e de chama em chama regressar

às oliveiras do Sul lentas e claras,

ao azul estendido nas pedras nuas

da Cantareira,

aos pardais ardendo nos ramos

do crepúsculo com a luz derradeira.

14
Mar
09

O pequeno sismo

Há um pequeno sismo em qualquer parte

ao dizeres o meu nome.

Elevas-me à altura da tua boca

lentamente

para não me desfolhares.

Tremo como se tivera

quinze anos e toda a terra

fosse leve.

Ó indizível primavera!

 

Notícias da Fundação:

Celebrando o Dia Mundial da Poesia, no próximo sábado, dia 21, pelas 18h30, estarão na Fundação Eugénio de Andrade para ler poemas inéditos, os seguintes poetas: Albano Martins, Fernando Guimarães, Eduarda Chiote, António Rebordão Navarro, Ana Luísa Amaral, Helga Moreira, José Emílio-Nelson, Rosa Alice Branco, Daniel Maia Pinto Rodrigues, João Luís Barreto Guimarães, Rui Lage.

A entrada é livre.

 

07
Dez
08

Pastoral

A terra inocente

abre-se ao ardor

de oiro de uma flauta

– será que o pastor

ou a primavera

desperta e se exalta?

 

 

Notícias da Fundação…

 

No próximo dia 13 de Dezembro, sábado, pelas 18h30, no auditório da Fundação Eugénio de Andrade, será feita a sessão de lançamento do livro Não é Preciso Gritar, de Eduarda Chiote, editado pela Editora Campo das Letras. A apresentação da obra estará a cargo de Arnaldo Saraiva.

A entrada é livre.

 

25
Out
08

Somos como árvores

Somos como árvores

só quando o desejo é morto.

Só então nos lembramos

que dezembro traz em si a primavera.

Só então, belos e despidos,

ficamos longamente à sua espera.




"Poupar o coração é permitir à morte coroar-se de alegria." Eugénio de Andrade
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“Sobre Eugénio sobra-me em emoção e lágrimas o que escasseia em palavras. Não há claridade que te descreva, meu querido Eugénio. És o meu poeta de ontem e de sempre. Mantinha um desejo secreto de te conhecer um dia, passar uma tarde contigo de manta nas pernas a afagar os gatos que tanto amavas. Em silêncio, sim, pois sempre foi em silêncio que me disseste tudo ao longo destes anos todos em que devorei as tuas palavras. Tu não poupaste o coração e por isso viverás sempre. Não há morte que resista a isso.” Raquel Agra (13/06/2005)

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