Junho chegara ao fim, a magoada
luz dos jacarandás, que me pousava
nos ombros, era agora o que tinha
para repartir contigo,
e um coração desmantelado
que só aos gatos servirá de abrigo.
Junho chegara ao fim, a magoada
luz dos jacarandás, que me pousava
nos ombros, era agora o que tinha
para repartir contigo,
e um coração desmantelado
que só aos gatos servirá de abrigo.
É um dos teus mais bonitos sorrisos
este Inverno
entornado nas areias.
Entrou pela varanda
com a espuma das vozes infantis.
E com os gatos dos telhados
não tardará a partir.
Gato dos quintais Gato dos portões, Gato dos quartéis Gato das pensões. Vêm da Índia, da Pérsia, De Ninive, Alexandria. Vêm do lado da noite, Do oiro e rosa do dia. Gato das duquesas, Gato das meninas, Gato das viúvas, Gato das ruínas. Gatos e gatos e gatos. Arre, que já estamos fartos! Um bom domingo para todas as crianças!!! Para este Natal: www.unicef.pt
Em abril chegam os gatos: à frente
o mais antigo, eu tinha
dez anos ou nem isso,
um pequeno tigre que nunca se habituou
às areias do caixote, mas foi quem
primeiro me tomou o coração de assalto.
Veio depois, já em Coimbra, uma gata
que não parava em casa: fornicava
e paria no pinhal, não lhe tive
afeição que durasse, nem ela a merecia,
de tão puta. Só muitos anos
depois entrou em casa, para ser
senhor dela, o pequeno persa
azul. A beleza vira-nos a alma
do avesso e vai-se embora.
Por isso, quem me lambe a ferida
aberta que me deixou a sua morte
é agora uma gatita rafeira e negra
com três ou quatro borradelas de cal
na barriga. É ao sol dos seus olhos
que talvez aqueça as mãos, e partilhe
a leitura do Público ao domingo.