Olha-me rapidamente num convite
que não aceito, a promessa de prazer
cai então em olhos menos fatigados,
mas por instantes pude surpreender
um campo matinal de trevos orvalhados.
In: Escrita da Terra (1974)
Olha-me rapidamente num convite
que não aceito, a promessa de prazer
cai então em olhos menos fatigados,
mas por instantes pude surpreender
um campo matinal de trevos orvalhados.
In: Escrita da Terra (1974)
Uma a uma a noite abria
à luz matinal das rolas
as minúsculas portas da alegria.
In: A Escrita da Terra (1974)
Agonia
dos lentos inquietos
amarelos,
solidão do vermelho
sufocado,
por fim o negro,
fundo espesso,
como no Alentejo
o branco obstinado.
In: Escrita da Terra (1974)
Está desse lado do verão
onde manhã cedo
passam barcos, cercada pela cal.
Das dunas desertas tem a perfeição,
dos pombos o rumor,
da luz a difícil transparência
e o rigor.
In: Escrita da Terra (1974)
Depois de uns dias de pausa, da vida como ela é, num recanto escondido do sul do país, com sal, sol e mar, regresso ao quotidiano. De Eugénio, também o “Sul”.
Pelo azul da pedra vê-se que é verão,
à beira do tanque os aloendros devem estar
em flor,
as águas reflectem o silêncio.
In: Escrita da Terra (1974)
Era um lugar onde só
a poesia
me podia ter levado –
lugar de morte, a luz
roída,
rala.
Até a minguada
romãzeira
era de pedra.
O vento
acrescenta-lhe a poeira.
In: Escrita da Terra (1974)
Afinal os romanos eram
como eu: amavam
os lugares onde a grandeza
e a solidão
andam de mãos dadas.
In: Escrita da Terra (1974)
Há um barco
há um homem nas areias.
Obscuramente aprende
a morrer onde as águas são mais duras.
Sei que é verão pelo hálito da loucura
o brilho em declínio das giestas
a caminho das dunas.
O homem adormecido
e a noite do poema eram de vidro.
In: Escrita da Terra (1974)
Há uma ruptura uma fenda no escuro do silêncio: ouve-se o murmúrio da urina dos soldados contra o muro.
Esta névoa sobre a cidade, o rio, as gaivotas doutros dias, barcos, gente apressada ou com o tempo todo para perder, esta névoa onde começa a luz de Lisboa, rosa e limão sobre o Tejo, esta luz de água, nada mais quero de degrau em degrau.