Posts Tagged ‘animal

08
Ago
11

É um sopro

É um sopro de animal ferido

entrar dentro de ti – o tempo só

da luz atravessar

a sombra lancinante da cintura.

06
Fev
11

Adivinha

Não é galo nem galão,

nem padre nem sacristão:

é um animal esquisito,

entre peru e pavão,

tem barbas ruivas de milho,

tem olhos de crocodilo,

rabo de rato ou de cão,

ão  ão  ão!

In: Aquela Nuvem e Outras (1986)

29
Dez
10

No lume no gume

Vê como a nudez cresce.

Seria fácil pousar agora

no lume

ou no gume do silêncio

se houvesse vento:

mas quem se lembra do branco

aroma da alegria?

Reconheço no vagaroso

andar da chuva o corpo do amor:

vem ferido: nas suas mãos

como dormir?

Como enxotar a morte: esse animal

sonâmbulo dos pátios da memória?

Bago a bago podes colher

a noite: está madura:

podes levar à boca

a preguiçosa espuma

das palavras.

E crescer para a água.

In: Véspera da Água (1973)

25
Jul
10

Nas palavras

Respiro a terra nas palavras,

no dorso das palavras

respiro

a pedra fresca da cal;

respiro um veio de água

que se perde

entre as espáduas

ou as nádegas;

respiro um sol recente

e raso

nas palavras,

com lentidão de animal.

08
Mar
09

Parágrafos da sede

Animal do deserto, o sexo. Expulso da alegria. Que procura ainda, no território da sede? Outra boca, mordendo a poeira? A língua do sol, entre a cegueira e o cio? A semente do linho? Animal do deserto, marrando contra o muro.




"Poupar o coração é permitir à morte coroar-se de alegria." Eugénio de Andrade
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“Sobre Eugénio sobra-me em emoção e lágrimas o que escasseia em palavras. Não há claridade que te descreva, meu querido Eugénio. És o meu poeta de ontem e de sempre. Mantinha um desejo secreto de te conhecer um dia, passar uma tarde contigo de manta nas pernas a afagar os gatos que tanto amavas. Em silêncio, sim, pois sempre foi em silêncio que me disseste tudo ao longo destes anos todos em que devorei as tuas palavras. Tu não poupaste o coração e por isso viverás sempre. Não há morte que resista a isso.” Raquel Agra (13/06/2005)

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