Agora vou falar da preguiçosa e fina
névoa entre os olhos e o rio.
Às vezes passava um barco.
Era como um arado lavrando
no meu coração a terra morta.
À proa o vento salgado dos pinhais.
Não sei para onde ia.
Devia haver em qualquer parte
um porto para o seu desassossego,
alguém de olhar molhado no cais
à sua espera. Numa cidade
pequena do Norte. Alguém
com nome, talvez Kai, os lábios
mordidos pelo vento, Kai
Haagen, no porto de Göteborg,
na costa da Suécia. Adeus, adeus.
In: Os Lugares do Lume (1998)