Archive for the 'Contra a Obscuridade (1988)' Category



17
Mar
08

Entre as folhas negras da figueira

Entre as folhas negras da figueira

e os erros do ofício

passa o rio.

 

Que rio é esse?

Passa irmanado à luz pueril

dos cereais, à magoada

voz de quem perdeu o sono.

 

Leva com ele, entre o roxo

da sombra e as sílabas contadas,

um verão de abelhas,

a profusão do mel.

 

Sigo-lhe os passos, perco-me

com ele.

 

16
Jan
08

A terra de palha rasa

A terra de palha rasa,

a matinal

restolhada dos pardais,

o brusco branco do muro, 

 

a luz onde as cigarras ao arder

desafiam os cardos,

o pão duro de cada dia,

a poeira onde assomam cabras, 

 

o rasteiro coaxar

das rãs em águas apertadas,

o uivo ralo dos cães,

a marca do fogo no avesso da pele, 

 

o descampado, os sulcos da sede.




"Poupar o coração é permitir à morte coroar-se de alegria." Eugénio de Andrade
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“Sobre Eugénio sobra-me em emoção e lágrimas o que escasseia em palavras. Não há claridade que te descreva, meu querido Eugénio. És o meu poeta de ontem e de sempre. Mantinha um desejo secreto de te conhecer um dia, passar uma tarde contigo de manta nas pernas a afagar os gatos que tanto amavas. Em silêncio, sim, pois sempre foi em silêncio que me disseste tudo ao longo destes anos todos em que devorei as tuas palavras. Tu não poupaste o coração e por isso viverás sempre. Não há morte que resista a isso.” Raquel Agra (13/06/2005)

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