12
Jun
23

Contigo

Acordo na manhã de oiro

entre o teu rosto e o mar.

As mãos afagam a luz,

prolongam o dia breve.

Entre o teu rosto e o mar

ninguém deseja ser neve.

Ninguém deseja o veneno

da noite despovoada.

Acorda-me a tua voz,

nupcial, branca, delgada.

In: Até amanhã

06
Jan
21

O Sal da Língua sugere… Poesia em Eugénio

“A Fundação INATEL apresenta o espetáculo POESIA EM EUGÉNIO, dia 16 de janeiro 2021, sábado, no Fundão, Auditório A Moagem. O Espetáculo tem duas sessões, às 16h e às 21h, de entrada livre , com reserva obrigatória para os seguintes contactos: 210027150 ou cultura@inatel.pt . Os lugares estão sujeitos à limitação do espaço e as reservas serão realizadas por ordem de entrada no serviços, nos dias úteis das 9h00 às 18h00.

O espetáculo POESIA EM EUGÉNIO, promovido pela Fundação INATEL e Câmara Municipal do Fundão, consagra a vida e obra do escritor e poeta, no território que o viu nascer. Com encenação e direção artística de Rui Sérgio esta elegia ao Poeta integra a leitura do Manifesto pela Poesia – “Matéria de Sonhos”, um inédito do escritor Fernando Paulouro Neves, que será lido pela atriz Ângela Pinto. No espetáculo participam, ainda, Pedro Górgia, Bruno Schiappa, Miguel Carvalhinho, Alcina Cerdeira, Arnandina Loureiro, Fado ao Centro, Rui Oliveira, Grupo de Teatro Histérico do Fundão, Bombos de Lavacolhos e os alunos da EB1 das Atalaias e utentes do CAS da Póvoa de Atalaka”.

19
Jan
19

Aniversário de Eugénio

Eugénio de Andrade, um dos maiores do séc. XX da poesia em língua portuguesa, faria hoje, se fosse vivo, 96 anos.

Para ler no dia de hoje: uma crónica de José Tolentino Mendonça, chamada “Menos de dois dólares”, publicada na revista Expresso a 04-01-2014 e que no último parágrafo cita o amigo Eugénio:

«A “pegada ecológica” diz muito acerca de nós: quantos recursos (e que recursos) hipotecamos para construir o que é o nosso estilo de vida, quais as necessidades que consideramos vitais e como as priorizamos, que tráfico de bens e serviços temos de colocar em funcionamento para realizar o nosso sonho (ou a nossa ilusão) de bem-estar. Os indicadores coincidem no seguinte: as sociedades avançadas geram uma inflação permanente de necessidades, indiferentes aos desequilíbrios que causam, e que são, em grande medida, não só de sustentabilidade ambiental mas de sustentabilidade espiritual. A verdade é que cada um de nós traz vazios por preencher, carências e interrogações submersas, desejos calcados que procura compensar de forma mais imediata. Não é propriamente de coisas que precisamos mas, à falta de melhor, condescendemos. À falta desse amor que nem sempre conseguimos, desse caminho mais aberto e solitário que evitamos percorrer, à falta dessa reconciliação connosco mesmo e com os outros que continuamente adiamos… O consumo desenfreado não é outra coisa que uma bolsa de compensações. As coisas que se adquirem são, obviamente, mais do que coisas: são promessas que nos acenam, são protestos impotentes por uma existência que não nos satisfaz, são ficções do nosso teatro interno. Os centros comerciais apresentam-se como pequenos paraísos, indolores e instantâneos. Infelizmente, de curtíssima duração também. Li há dias, e impressionou-me muito, que, quando Gandhi morreu, os bens materiais que deixou valiam menos de dois dólares. Voltei a ler para verificar se me tinha enganado: menos de dois dólares. Os bens espirituais e civis que legou ao futuro tinham, porém, uma dimensão incalculável. O que nos enfraquece não é, de facto, a escassez, mas a sobreabundância; não é a indagação, mas o ruído de mil respostas fáceis que conflituam; não é a frugalidade, mas sim o desperdício. O que nos enfraquece é não termos escutado até ao fim o que está por detrás da fome e da sede, da nossa urgência e da nossa fadiga, do atordoamento, dos medos ou da abstenção. Há aquela cena do filme de Steven Spielberg “A Lista de Schindler”. O ator Liam Neeson representa o papel do industrial alemão que salvou a vida a mais de mil judeus. Na cena final, os resgatados oferecem-lhe expressando a sua gratidão, uma aliança com uma frase do Talmude: “Aquele que salva uma vida, salva o mundo inteiro”. E a resposta de Oskar Schindler é inesquecível: “Podia ter feito mais. Não sei, eu… Podia ter salvo mais. Desperdicei tanto dinheiro com futilidades. Não fazes ideia. Se soubesses… Não fiz o suficiente. Este carro… Porque fiquei eu com ele? Alguém o teria comprado. Terial salvo dez pessoas, mais dez pessoas. Este alfinete! Duas pessoas! É de ouro. Podia ter salvo mais duas pessoas. Por isto… eu poderia ter salvo mais pessoas… e não o fiz”. Estamos condenados a uma dor assim? Mas há finais felizes. Lembro-me dos meses que antecederam a partida do poeta Eugénio de Andrade. Ele ficou internado longo tempo no hospital de Santo António, no Porto. Nessa altura, passei por lá algumas vezes a visitá-lo e só me recordo de ouvi-lo pedir uma coisa: que lhe trouxessem duas maçãs. Não para comer, obviamente, mas para ficar a olhá-las da cama, para sentir a cor, a textura, o perfume, para distinguir a sua forma no silêncio, para amá-las como se ama uma pintura de Cézanne. Acho que duas maçãs custam menos de dois dólares, não é verdade?»

08
Out
17

Assis

Também tu,

também tu suspiras

por águas que lavem

o pranto, as feridas,

e se possível o mundo.

 

Suspiras, e ardes,

e contigo arde o ar.

Felizes os anjos:

em vez de suspiros

ouvem-te cantar.

26-1-87

In: Homenagens e outros Epitáfios

04
Out
17

O Sal da Língua sugere… As Mães, por Rui Oliveira

O Sal da Língua sugere, no dia de hoje, o poema “As mães”, do nosso querido Eugénio, dito por Rui Oliveira (https://www.youtube.com/watch?v=CwpETIdqDLk).

“(…) elas estão em toda a parte onde nasça o sol: em Cória ou Catânia, em Mistras ou Santa Clara del Cobre, em Varchts ou Beni Mellal, porque elas são as Mães.

O olhar esperto ou sonolento, o corpo feito um espeto ou mal podendo com as carnes, elas são as Mães. A tua, a minha, se não tivera morrido tão cedo, sem tempo para que o rosto viesse a ser lavrado pelo vento.(…) Com mãos friáveis teceram a rede dos nossos sonhos, alimentaram-se com a luz coada pela obscuridade dos seus lenços. Provavelmente estão aí desde a primeira estrela. E o que elas duram!(…)

Elas são as mães, ignorantes da morte mas certas da sua ressurreição.”

 

19
Jan
17

O Sal da Língua comemora o Aniversário de Eugénio

Num dia como o de hoje, em 1923, na Póvoa de Atalaia, Fundão, nascia com o nome José Fontaínhas o nosso querido Eugénio. Em jeito de homenagem, aqui fica a composiçºao “Coração Habitado”, de Jorge Peixinho, inspirada no poema de Eugénio de Andrade. https://www.youtube.com/watch?v=tUnckPwkvM8

Coração Habitado

Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam que são as mãos de deus
— eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.

Eugénio de Andrade, in “Até Amanhã”

23
Dez
16

O Sal da Língua sugere “Literatura Aqui”

O Sal da Língua sugere o programa sobre literatura da RTP2 apresentado por Pedro Lamares – “Literatura Aqui“. O programa coloca a literatura como personagem e cada episódio “tem dois momentos de elogio à obra literária, com excertos de poesia e de prosa escolhidos e ditos por Pedro Lamares e Filipa Leal. A eles se juntam reportagens com a ambiciosa pretensão de abarcar o vasto universo da literatura: quem a escreve, quem a diz, quem a serve, quem a traduz e quem a guarda. A literatura na música, no cinema, no quotidiano e como inspiração para os mais variados criadores. Ao longo de cada emissão, tempo ainda para abordar alguns dos grandes temas da literatura, bem como a história e as estórias de livrarias, bibliotecas e outros tantos espaços com livros dentro.”

O Sal da Língua sugere, especificamente, o episódio 14, onde a referência ao nosso querido Eugénio de Andrade surge através dos seus versos “Requiem para Pier Paolo Pasolini”, aos quais o programa ousa acompanhar de imagens, dando uma outra vida e reforçando a significância das palavras.

http://www.rtp.pt/play/p2798/e264036/literatura-aqui

Aqui fica, por isso, com votos de parte do “Sal da Língua” de um feliz Natal para todos, com muita poesia e prosa no sapatinho!

16
Jun
16

O Sal da Língua sugere Eugénio pelas mãos e voz de Júlios

Júlio Machado Vaz junta-se a Júlio Resende  no disco  “Poesia Homónima por Júlio Resende e Júlio Machado Vaz” e os versos são de Eugénio de Andrade e Gonçalo M. Tavares. Uhmmm… vamos ouvir?13346899_1047857928637419_6893093563214138751_n

15
Fev
16

Eugénio na tela

“Eugénio de Andrade, o Poeta”, Biblioteca Municipal Eugénio de Andrade – Fundão, pintura Isabel Nunes

Eugénio de Andrade, o Poeta' Biblioteca Municipal Eugénio de Andrade - Fundão, pintura Isabel Nunes

19
Jan
16

O Sal da Língua comemora o nascimento do seu poeta

O Sal da Língua comemora o nascimento do seu poeta Eugénio de Andrade que, num dia como o de hoje, no ano de 1923, nascia em Póvoa da Atalaia, concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco, para nos alumiar com a sua poesia e prosa!

Em jeito de comemoração, a aldeia natal do poeta vai acolher um espaço interpretativo dedicado à sua vida e obra. Este foi o anúncio feito pela Câmara Municipal de Póvoa da Atalaia que, além do espaço que requalificará em honra do poeta, prevê igualmente a criação de uma rota pedestre que, ao longo de 4 Km, dará a conhecer a presença desta aldeia na obra de Eugénio de Andrade!

Mais informações aqui: http://www.noticiasaominuto.com/cultura/522042/aldeia-de-eugenio-de-andrade-acolhe-espaco-dedicado-ao-poeta

Parabéns ao nosso poeta e ao município de Póvoa de Atalaia por acarinhar e celebrar os seus!

 




"Poupar o coração é permitir à morte coroar-se de alegria." Eugénio de Andrade
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“Sobre Eugénio sobra-me em emoção e lágrimas o que escasseia em palavras. Não há claridade que te descreva, meu querido Eugénio. És o meu poeta de ontem e de sempre. Mantinha um desejo secreto de te conhecer um dia, passar uma tarde contigo de manta nas pernas a afagar os gatos que tanto amavas. Em silêncio, sim, pois sempre foi em silêncio que me disseste tudo ao longo destes anos todos em que devorei as tuas palavras. Tu não poupaste o coração e por isso viverás sempre. Não há morte que resista a isso.” Raquel Agra (13/06/2005)

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